Deixamos Alter do Chão na manhã do dia 04/11/17 em direção a Altamira, cujo percurso pela BR-163 e depois pela BR-230 (Transamazônica) seria de 540 km. Conversando com o proprietário
da pousada, ele nos orientou que ao invés de seguirmos pela BR-163, havia a alternativa de um atalho por uma estrada de chão na direção
de Belterra, depois seguiríamos rumo a Hidrelétrica de Curuá-Una, margeando a Floresta Nacional do Tapajós, até alcançarmos a cidade de Uruará. Fazendo esse trajeto ao invés de seguirmos a orientação
do GPS, o percurso seria reduzido em 170km aproximadamente, só que iríamos percorrer a partir da Hidrelétrica de Curuá-Una,
150 km por trilhas na floresta, numa região totalmente desabitada que normalmente é utilizada pelos madeireiros. Quando estávamos navegando pelo Rio Amazonas, um rapaz que mora em Santarém e faz parte do Jeepclub da cidade, já
havia nos falado sobre esse atalho que eles usam para fazer trilhas offroad, mas não nos aconselhou que fossemos por ele devido aos atoleiros e por ser um caminho muito isolado e às vezes perigoso. Como já havíamos enfrentado as
condições adversas da BR-319, ignoramos a recomendação é resolvemos topar o desafio. Como a estrada não tinha sinalização, pedimos
algumas informações até que chegamos nos limites da Hidrelétrica. Para continuar pelo atalho, recebemos autorização
numa guarita de controle e passamos por dentro da Usina Curuá-Una que fica há 70 km
de Santarém e é responsável pelo suprimento de energia da cidade. No portão de saída o segurança nos informou que teríamos a partir dali mais
150 km de estrada de chão até o entroncamento com a Transamazônica na cidade de Uruará. Seguimos viagem e em alguns pontos avistamos "picadas" que enveredavam pela mata fechada, junto a barracos de palha onde haviam máquinas
paradas e tambores de combustível, mas sem ninguém por perto, como se as pessoas tivessem desaparecido ante a nossa aproximação. Em todo o percurso encontramos com no máximo meia dúzia de carros, entre eles duas carretas
que seguiam na nossa frente levantando muita poeira, carregadas com imensas toras de madeira que não sabíamos se tinham origem legal ou se foram extraídas de forma clandestina pelos madeireiros que agem na região e costumam trafegar por estradas que são abertas e mantidas por eles mesmos, portanto sem nenhuma fiscalização. No final da tarde chegamos na cidade de Altamira
onde pernoitamos. No dia seguinte 05/11/17, seguimos pela Transamazônica com destino a Belém. Na primeira hora de viagem, nos deparamos
com a polêmica obra da Usina de Belo Monte, cujo projeto iniciado há mais de quarenta anos ainda causa polêmicas até hoje.
O mega empreendimento que no projeto inicial previa o alagamento de cerca de 20 mil quilômetros quadrados de uma grande área da Floresta Amazônica, de imediato chamou a atenção da comunidade ambientalista internacional que
passou a cobrar explicações do governo brasileiro. Em 1989, por ocasião de uma audiência em Brasília com comunidades
indígenas que seriam inundadas pelo lago, um protesto inesperado gerou uma imagem tensa e muito forte que correu o mundo. Numa ação intempestiva, a Índia Tuíra esfregou o seu facão contra o rosto do presidente da Eletronorte,
deixando todos os participantes perplexos e sem ação, inclusive o cantor britânico Sting que estava presente e era contrário à obra. Durante aquele episódio, os indígenas exigiram a troca do nome da usina que
era chamada de KARARAÔ, proibindo o uso dessa palavra sagrada que no seu vocabulário significa "Grito de Guerra" para dar nome ao projeto. A partir dali a usina passou a se chamar de Belo Monte. Considerada uma "OBRA TRÁGICA" pelo TCU que
investiga o superfaturamento da usina, o grito de guerra dado no passado pela Índia Tuíra com o seu facão, hoje continua com
a caneta afiada do Juiz Sérgio Moro que tenta recuperar o dinheiro desviado dessa obra polêmica, que foi inicialmente orçada em 17 bilhões e embora ainda não concluída já consumiu mais de 30 bilhões. Em
Belo Monte do Pontal, Cruzamos o Rio Xingu em uma balsa que faz a travessia entre as margens num tempo aproximado de dez minutos. Ao contrário
do que observamos na grande extensão da Transamazônica, neste ponto devido a largura do rio, não existe as famosas "pinguelas" que são pontes de madeira construídas sobre os inúmeros Igarapés ao longo da rodovia.
Neste caso, o valor pago pela travessia vai para uma empresa privada que detém a concessão do serviço. Após a travessia do Rio Xingu, dirigimos por mais 75 km até Anapu
onde em 2005, a missionária estadunidense Dorothy Stang foi assassinada a mando dos latifundiários e fazendeiros que ela ousou enfrentar. Esse crime teve repercussão mundial e tornou-se um símbolo para lembrar a violência
nos conflitos agrários que acontecem no Brasil. Já no Município de Pacajá, a Rodovia Transamazônica que na maioria da sua extensão é uma estrada plana, nesse trecho conhecido como Ladeira da Velha se torna bastante
íngreme e sobre o local, devido aos constantes acidentes, surgiram várias lendas para explicar a origem do seu nome. Uma delas fala sobre a aparição de uma idosa que teria sido atropelada e morta naquele trecho da estrada. Outros
falam que a tal velha foi uma saqueadora, que se aproveitava da vulnerabilidade dos caminhoneiros que ficavam atolados para ataca-los e roubar a carga. E numa terceira versão mais amigável, a velha seria uma pessoa do bem, uma espécie
de Anjo da Guarda para os viajantes em apuros que a eles oferecia comida e abrigo. Após várias intervenções de engenharia e o asfaltamento da ladeira, os acidentes diminuíram mas muitas pessoas ainda se recordam das lendas
que continua mexendo com o imaginário dos motoristas que trafegam pela Mítica Transamazônica. Próximo de Tucuruí, tivemos que atravessar no meio de uma
boiada que ocupava toda a pista e deixava o trânsito bastante lento. A cerca de 400 km de Belém passamos pela Usina de Tucuruí, considerada a maior usina 100% brasileira, já que Itaipu tem uma maior potência instalada, mas
é dividida entre Brasil e Paraguai. Transpusemos o lago sobre a sua barragem que tem 11km de comprimento por 78m de altura, de onde se tem
uma vista para o imenso lago onde as águas do Rio Tocantins são represadas pela maior obra de engenharia até hoje realizada na
Amazônia. Depois de percorrer 780 km em 12 horas de viagem chegamos em Belém por volta de 18:00 horas e fomos descansar para no dia seguinte começar a nossa maratona que prometia ser intensa. Como reservamos dois dias para conhecer Belém, tivemos que otimizar a nossa estadia na Cidade das Mangueiras para ver somente o essencial.